Meu dia de piloto
01/07/14 14:03O despertador tocou cedo. Eram 6h03 para ser mais exata. Pulei da cama como se fosse meu primeiro dia de férias (não, nunca diria de aula!). Sim, era mais um dia de céu azul e sol em Londres, mas minha felicidade nesta terça-feira tinha outra explicação.
Como vim direto da Áustria para a Inglaterra, a Red Bull me convidou para participar do que eles chamam de “Media Day” em Milton Keyes, cidade onde fica a fábrica da equipe, que era destinado à imprensa inglesa.
Depois de duas viagens de metrô, uma de trem e uma de taxi (que ironicamente tinha um adesivo da Ferrari em seu carro), cheguei ao local do evento, o Daytona Motorsports, uma pista de kart.
Sim, odeio admitir, mas cheguei para andar de kart pela primeira vez na vida. Uma vergonha para uma setorista de F-1. Ok, admito.
Mas pelo menos sei dirigir e, modéstia à parte, acho que dirijo bem. Talvez corra um pouco mais do que deveria, mas quem pode me culpar quando passo o ano seguindo o Mundial de F-1?
Bem, papéis preenchidos, era hora de participar da palestra sobre segurança. Blablabla, o que significam as bandeiras, o que podemos fazer, o básico. A esta altura meu coração já estava batendo mais forte. Fim da palestra, hora de pegar meu macacão, minhas luvas e meu capacete. Fui colocada no grupo três, de quatro que foram formados.
Ufa, teria tempo para dar uma olhada, pedir algumas dicas. Mas quem eu estava querendo enganar? Sou péssima de memória e nunca sei os traçados da F-1 de cabeça. Como eu ia aprender o do Daytona em uma hora? Deixei pra lá e resolvi usar meu “talento natural”.
Era pouco mais de 11h quando chegou a nossa vez. Capacetes bem presos, karts ligados, viseira abaixada.
A primeira coisa que senti foi o peso da direção. Nossa, como era pesada. Saí para a pista e a segunda coisa que percebi foi como o freio era lá embaixo. A primeira volta foi uma tristeza. Não sabia o que vinha depois, como o carro, ops!, o kart se comportava, só sentia o peso da direção. E, a cada segundo, pensava, vou bater, vou rodar, vou bater, vou rodar.
Minha primeira volta foi em 1min50s799. Uma eternidade. Respirei fundo e, apesar de já estar sentindo músculos do meu antebraço que não sabia que existiam, decidi que ia começar a levar aquela brincadeira a sério.
E comecei, aos poucos, a entender um pouco mais. E comecei a tentar novas tomadas, frear mais tarde, acelerar mais na saída das curvas, enfim, a brincar de piloto.
Foram só 25 minutos na pista, só tomadas de tempo, sem uma corrida propriamente dita. Foi como se eu tivesse participado da minha primeira classificação. Estacionei o kart, tirei o capacete. Meu cabelo estava empapado, minha camiseta molhada de suor, minha boca seca. Tirei as luvas e já tinha duas bolhas enormes nas mãos. Mas eu não estava em aí.
No fim, minha melhor volta foi a antepenúltima, em 1min21s156. O suficiente para me deixar em último lugar na minha bateria se houvesse uma corrida. Mas outra vez eu não estava nem aí.
Deixei o Daytona satisfeita de saber que, apesar de só ter “brincado” de piloto por 25 minutos, agora tenho muito mais noção de coisas que, até então, eram apenas teoria para mim. Saí também com a certeza de que, se eu treinar, posso melhorar nesta “brincadeira”.
E, como não podia ser diferente, voltei para Londres com um sorriso à la Ricciardo no rosto.
Ah, e claro, não foi apenas diversão (e aprendizado!!!). Teve trabalho também, como vocês podem ver aqui, aqui e aqui.