Massa, cinco anos depois
01/08/14 08:45A correria do final de semana de corrida muitas vezes faz com que eu não tenha tempo de publicar alguma coisa que queria por aqui. Para completar, este último final de semana era o segundo de uma dobradinha, o que sempre quebra quem viaja pra lá e pra cá com a F-1 (e o Bernie ainda está querendo fazer um calendário de 22 corridas #afe #hajamilhagem).
São duas coisas inevitáveis. Desembarcar em Budapeste e não lembrar de 2009. E alguém, quando descobre que eu cubro F-1, não me perguntar se 2009 não é o motivo de Massa nunca mais ter vencido na F-1.
Mas vamos por partes. Primeiro 2009.
Lembro como se fosse ontem (o que é raro, já que a minha memória é uma tristeza) daquele final de semana em Budapeste. Cheguei na quarta-feira, já cansada pelo meio da temporada, pensando que só tinha mais quatro dias de trabalho na Hungria e que depois voltaria ao Brasil para algumas semanas de descanso (leia-se trabalhando da redação, mas dormindo na minha cama, o que faz toda a diferença).
Na quinta-feira, como era uma tradição naquela temporada, cheguei cedo a Hungaroring para acompanhar Rubens Barrichello em seu “track walk”, a volta que os pilotos (menos Raikkonen, claaaaro) dão nas pistas com seus engenheiros para ver o traçado e eventuais mudanças na pista de um ano para o outro.
O calor em Budapeste estava infernal, mas eu e meu amigo Felipe Motta, que cobria F-1 para a Rádio Jovem Pan, sobrevivemos aos 4,3 km e, ao final da volta, Barrichello fez algo que nunca tinha feito até então conosco: nos chamou para entrar nos boxes da Brawn.
Lembro que seu carro estava todo desmontado ainda e ele, do nada, falou: “Vocês estão vendo esta mola aqui? Pois é, ela é a única que ainda existe num carro de F-1 hoje em dia”. Ok, informação curiosa, mas que não mudaria minha vida na hora do almoço, depois de caminhar pelo circuito com um sol de rachar.
Naquele momento, estava mais interessada na pergunta seguinte: “Vocês querem almoçar com a gente?”. Sim, claro. O salmão estava divino naquela quinta-feira de sol.
Veio o sábado e lembro de sentar no meu lugar na sala de imprensa, diante do meu computador, e pensar: “Oba, agora é classificação, corrida e casa”. Bem, não foi bem assim…
A classificação começou e todo mundo sabe o que aconteceu. A tal da mola, que o Barrichello me mostrou na quinta, acertou Massa pouco acima do olho esquerdo. E a minha ida ao Brasil, que aconteceria na segunda-feira, foi adiada até que o brasileiro deixasse o hospital.
Os primeiros dois dias foram de loucura total. Era difícil entender o que estava acontecendo ao certo, as informações eram desencontradas. Lembro de ver a família dele chegando ao hospital, a Raffa, mulher dele, super grávida, uma cena que me cortou o coração. Com o passar dos dias a situação se acalmou, mas os dias eram longos.
Chegava cedo à porta do hospital e lá ficava. Saía para almoçar, em algum lugar nas redondezas, mas logo voltava. O calor era demais e não havia nada que pudéssemos fazer, a não ser esperar. Só deixei Budapeste depois que o avião-ambulância decolou do aeroporto húngaro.
Foi uma experiência que jamais vou esquecer. E que, de vez em quando, quando sento do lado esquerdo de Massa em uma entrevista, me vem à memória. A cicatriz ainda está lá.
Mas, respondendo à segunda pergunta, acredito, de verdade, que ela é só física. Não acredito que aquele acidente tenha deixado uma cicatriz também psicológica no brasileiro.
Acho que o fato de não termos mais visto “aquele mesmo Massa” é uma questão circunstancial. Nos anos seguintes a Ferrari não fez um carro tão bom como o de 2008. Em sua volta às pistas, Massa deu de cara com Alonso como companheiro de equipe. Ele, que era “o cara” no time, voltou e viu seu lugar ocupado por um dos melhores pilotos da F-1. Fácil?
Some-se a isso o fato de em 2010, quando vinha lutando para se reerguer, ouvir, via rádio, um “Fernando is faster than you”. Ok, muitos vão dizer que agora, que tem um excelente carro nas mãos outra vez, Massa está bem atrás de Bottas no campeonato.
Sim, o finlandês já mostrou que é rápido e pode ser bastante constante em corridas também, não por acaso fez três pódios na sequência. Mas Massa teve azar em várias corridas. Há quem diga que sorte e azar não existem, eu acredito que sim.
E acredito também que, assim que emendar uma boa sequência de resultados, podemos ver mais uma vez Massa brigando por pódios e, quem sabe, até vitórias. Acho que sua carreira na F-1 já está perto do fim, mas ainda acredito que há tempo para o brasileiro se redimir. Com um bom carro nas mãos, como tem agora, não vejo motivo para duvidar.