Webber conduz seu Red Bull em Suzuka (Divulgação)

E não é que Mark Webber acabou com a alegria de Sebastian Vettel neste sábado aqui em Suzuka?

Quando o alemão parecia caminhar para a quinta pole seguida no circuito japonês, a quarta consecutiva neste ano, seu companheiro de Red Bull fez a melhor volta do final de semana em 1min30s915 e abocanhou a pole.

Acabou com seu jejum de primeiros lugares no grid, que durava desde a Coreia, no ano passado, e deu um pouco de esperança de que amanhã, no GP do Japão, a gente veja um roteiro um pouco diferente do que foram as últimas corridas _leia-se Vettel sai na frente, voa, vence e ainda faz a melhor volta.

Digo pouco de esperança porque Webber se tornou um especialista em largar mal. Agora há pouco, na coletiva da FIA, até brincou com isso. “Vou fazer meu melhor e cruzar os dedos para fazer uma boa largada.” E falou ainda que não vai ajudar o companheiro.

Vettel estava com cara de poucos amigos e disse que não ia culpar o problema que teve no Kers de seu carro pelo segundo lugar. Pressionado pela boa volta de Webber, chegou a cometer um erro em uma de suas tentativas, algo raro de se ver.

Ainda assim, acho que ele tem tudo pra ganhar a corrida amanhã. O título já são outros quinhentos. É verdade que Fernando Alonso decepcionou, foi mais de sete décimos mais lento que Webber, e larga apenas em oitavo (veja o resultado completo da classificação aqui). Mas ele sabe como poucos se recuperar na hora que interessa, a corrida.

Já Felipe Massa foi bem, chegou a ficar com o terceiro lugar no grid, mas acabou terminando em quinto (1min31s378). Disse que quer tentar repetir o pódio de 2012, mas que vai ser difícil.

Não podemos esquecer que a Lotus também deve vir mais forte para o GP. Ou seja, temos todos os ingredientes para uma boa corrida.

Apostas para o pódio em Suzuka?

A foto de Maria criança (Arquivo Pessoal)

Lembro da última vez que vi Maria de Villota antes do acidente que ela sofreu no ano passado, quando perdeu o olho direito e o olfato e, por muito pouco, a vida.

Era meu aniversário, domingo do GP da Europa, em Valência. Encontrei com ela na entrada do paddock e ela abriu um sorriso enorme ao me ver.

Alguns meses antes, na China, havia feito uma entrevista com ela, que você pode ler aqui. Piloto de testes da Marussia, era a primeira mulher a ser inscrita num Mundial de F-1 desde 1992, quando Giovanna Amati tentou, sem sucesso, se classificar para as três primeiras provas do ano.

A simplicidade, a sensibilidade e o interesse dela me encantaram. Na F-1, estamos acostumados a entrevistar gente que não te olha nos olhos, gente que responde por reflexo, gente desinteressada.

O fato de ser mulher talvez tenha ajudado na empatia. Somos poucas no paddock. E a entrevista acabou virando uma conversa. Maria me mandou fotos de quando era pequena e corria de kart para que eu publicasse na Folha e eu retribuí mais tarde enviando a matéria a ela, depois de publicada.

Depois do acidente, só a vi uma vez, em Barcelona, neste ano. De tapa-olho e cabelos bem curtos, por conta da série de cirurgias que teve de se submeter, Maria continuava sorrindo. “O olho que perdi devolveu meu rumo”, disse.

Ultimamente, ela estava envolvida em projetos de caridade com outros pilotos e trabalhava ativamente como embaixadora da comissão da FIA pelas mulheres no automobilismo.

Apesar de nunca ter chegado de fato à F-1, Maria é uma inspiração para as meninas que sonham em um dia chegar à principal categoria do automobilismo. Ela nunca desistiu de seu sonho.

Mais que uma piloto, perdemos hoje uma grande mulher.

Vettel durante o primeiro dia de treinos em Suzuka (Divulgação)

Com o paddock ainda em choque pela notícia da morte da ex-piloto Maria de Villota, encontrada morta num hotel na Espanha, a primeira colocação de Sebastian Vettel neste primeiro dia de treinos para o GP do Japão não chegou a ser surpresa.

Depois da dupla da Mercedes ficar na frente pela manhã, com Lewis Hamilton em primeiro (1min34s157), Vettel e Mark Webber deram o troco na sessão da tarde nesta sexta de muito, muito calor em Suzuka (é, assim como na Coreia, a esperada chuva não veio).

O piloto da Red Bull cravou 1min33s852, quase dois décimos à frente do companheiro australiano. Disse agora há pouco que estava feliz com o carro, mas que havia espaço para melhora.

Nico Rosberg, o segundo pela manhã, foi o terceiro, apenas dois décimos atrás de Vettel, e Hamilton fechou o dia em sexto.

“Estou feliz com a maneira como nosso carro se portou, mas queria estar um pouco mais competitivo. Ainda é cedo para dizer o que podemos fazer, mas imagino que podemos dar trabalho na classificação”, afirmou Hamilton.

Já Fernando Alonso, o único que pode adiar o título do alemão, saiu decepcionado com sua Ferrari. Rodou e foi só o décimo à tarde (1min35s087), atrás inclusive de Felipe Massa, o oitavo, com 1min34s698.

“Claro que eu não esperava um milagre em cinco dias, mas temos que achar alguma coisa logo de cara amanhã cedo para melhorar alguns décimos. Ficar atrás de Red Bull e Mercedes é normal, mas não podemos estar atrás da Toro Rosso”, esbravejou.

Quarta pole seguida de Vettel amanhã?

Honestamente acho que desta vez vai mais fácil do que foi na semana passada, na Coreia.

Quinta-feira, fim de tarde, arquibancada cheia em Suzuka

Chegar a Suzuka sempre me deixa feliz. Não só pela hospitalidade de gente como a Denise, o Marcelo e a Lucy, brasileiros que vieram ganhar a vida no Japão e abrem suas casas com tanto carinho durante o final de semana do GP, mas pela atmosfera deste lugar. Chega a ser difícil colocar em palavras. É preciso vivenciar este lugar.

Minha primeira viagem ao Japão, em 2007, foi para Fuji, que voltava ao calendário da F-1. Peguei um terremoto na primeira noite, choveu, a ida para o circuito demorava mais de uma hora e o público não empolgou. Confesso que não me empolguei, apesar de ter ficado fascinada pelo país.

Mas tudo mudou em 2009, quando Suzuka voltou a ser a casa do GP do Japão. Sem falar na pista espetacular, favorita da maioria dos pilotos, aqui se vive a F-1 de verdade.

Desde quinta-feira os torcedores lotam as arquibancadas para ver os pilotos. Fazem vigília na entrada do circuito, na porta do hotel onde a maioria dos times se hospeda.

Lembro a primeira vez que Bruno Senna correu aqui e chegou para a entrevista com a imprensa brasileira cheio de riscos de caneta e alguns arranhões, depois de enfrentar um batalhão de fãs na chegada à pista.

Senna, o tio, ainda é uma presença muito forte aqui. Há bonés dele por todas as partes e todo o tipo de produto com seu nome, seu capacete, sua foto podem ser encontrados nas lojinhas do circuito.

Todas as vezes que venho a Suzuka faço questão de visitar a F-1 Village, a área onde os torcedores ficam entre os treinos, cheia de exposições, lojas e um clima incrível.

Depois de um fim de semana na Coreia, que ainda não descobriu a F-1, como contei neste outro post, chegar ao Japão é um choque.

No bom sentido. A dedicação e o amor dos fãs chega a arrepiar. É uma torcida intensa, mas ao mesmo tempo quase ingênua, pura.

Ao lado de Interlagos, Spa e Monza, é para mim o que todas as corridas deveriam ser. Mais do que “templos” do automobilismo, são lugares em que a F-1 extrapola o asfalto e que faz a gente não se incomodar com um calendário de 22 corridas, como a FIA programou para o ano que vem, apesar da insanidade que isso significa.

Ah se todas fossem como você, Suzuka…

Mesmo sem carros na pista, quinta-feira é sempre o dia mais corrido pra nós. Todos os pilotos dão entrevistas então é um sobe e desce do paddock pra sala da imprensa.

Um resumo do melhor do dia…

Felipe Massa disse que ainda não definiu seu futuro, mas que as negociações avançaram nos últimos dias.

Fernando Alonso afirmou que temos que esperar para ver quão bom Sebastian Vettel realmente é, pois com o melhor carro do grid nas mãos, não podemos julgar.

Vettel rebateu as críticas de Lewis Hamilton de que a F-1 está ficando entediante por sua causa. Segundo ele, na época de Michael Schumacher era muito pior.

Amanhã (para mim), hoje à noite para vocês, enfim, carros na pista.

O circuito de Suzuka

Final de semana de calor é o que promete a previsão do tempo para a 15ª etapa do Mundial e que pode decidir o título desta temporada. Existe a possibilidade de chuva para a primeira sessão de treinos livres, na sexta, mas a corrida deve ser disputada com pista seca.

Para não perder nada, aqui está a programação, no horário de Brasília.

Quinta

• 22h às 23h30 – treinos livres

Sexta

• 2h às 3h30 – treinos livres
• 23h à 0h – treinos livres

Sábado

• 2h às 3h – treino de classificação

Domingo

• 3h – GP do Japão, 53 voltas (307,471 km)

Vettel lidera o GP da Coreia (Divulgação)

Primeiro foram as vaias da torcida nos pódios de Monza e Cingapura. Depois Lewis Hamilton disse, após o GP da Coreia, no domingo passado, que o domínio de Sebastian Vettel estava deixando os fãs de F-1 entediados.

“Lembro de acordar para assistir as largadas e depois dormir de novo, porque eu já sabia o que ia acontecer”, disse o piloto da Mercedes sobre a era Michael Schumacher. “Tenho certeza que um monte de gente tem feito isso de novo agora.”

Entendo a frustração porque compartilho dela e já me peguei diversas vezes torcendo contra o alemão, apesar de reconhecer seu inegável talento e enorme competência.

A verdade é que nos últimos anos ficamos mal acostumados. Depois dos anos de domínio de Schumacher, a F-1 passou por uma renovação e vimos decisões de campeonatos sensacionais.

Em 2007, quando todos apostavam num título de Hamilton ou de Alonso, então parceiros de McLaren, e foi Raikkonen quem saiu de Interlagos campeão. Depois, no ano seguinte, a inesquecível disputa Hamilton-Felipe Massa, que chegou a fazer do brasileiro campeão por alguns metros.

Aí veio 2010, quando Alonso viu o título escapar por seus dedos e parar, pela primeira vez, nas mãos de Vettel. E por fim no ano passado, quando o alemão engatou uma recuperação memorável no fim da temporada e levou a disputa do campeonato mais uma vez para o Brasil. Rodou na primeira volta e teve de fazer uma corrida de recuperação para conquistar o tricampeonato.

Se a hegemonia de Vettel neste ano pode não estar fazendo bem ao campeonato, fazendo as pessoas desligarem à TV ou voltar a dormir, temos de lembrar que estamos vendo a história da F-1 ser escrita e, certamente, assistindo ao desenvolvimento de um dos grandes nomes do esporte.

O sucesso do piloto da Red Bull não é acaso. Desde a 28ª volta do GP da Itália, apenas ele esteve no comando das corridas. Já são 768 km na liderança.

Com o final de semana perfeito na Coreia, Vettel tornou-se apenas o terceiro piloto da história a fazer pole, melhor volta e vitória de ponta a ponta em duas corridas seguidas. Antes dele, Alberto Ascari, em 1952, e Jim Clark, em 1963. E os recordes não param por aí.

Neste final de semana, aqui no Japão, ele pode conquistar seu quarto Mundial. Como já disse antes, acho que a taça deve vir  na Índia. Mas não tenho dúvidas de que devemos assistir a mais um show de Vettel aqui em Suzuka, sua pista favorita.

Vettel deixa o pódio na Coreia (Divulgação)

O tufão não apareceu. Nem a chuva. E, com pista seca, o que se viu neste domingo aqui em Yeongam foi o que todo mundo já esperava. Mais uma vitória de Sebastian Vettel, a quarta seguida, a oitava neste ano.

Pole, melhor volta e triunfo de ponta a ponta. Uma repetição de Cingapura, há duas semanas, com a diferença que desta vez ele não terminou com mais de 30 segundos de folga para o segundo colocado. Kimi Raikkonen, o segundo hoje, chegou a pouco mais de quatro segundos do piloto da Red Bull. Romain Grosjean foi o terceiro.

Vettel seguiu seu script. Largou e abriu sua “gordura” de segurança. Nem a entrada de dois safety cars, o segundo numa trapalhada que poderia acabar mal, quando um carro dos bombeiros entrou na pista antes do carro madrinha, foram capazes de atrapalhar o alemão.

No final da prova, como de costume, ele ainda fez questão de cravar a melhor volta. Levou bronca pelo rádio, também como de costume. E festejou muito.

Se antes do GP da Coreia o quarto título de Vettel já parecia só uma questão de tempo, agora ele pode ficar em casa pelas próximas corridas, voltar, e ainda assim ser campeão. Tem 77 pontos a mais que Alonso, que hoje fez uma corrida sem brilho. Ficou preso atrás da Sauber de Nico Hulkenberg boa parte da prova e chegou em sexto. Felipe Massa também não foi bem. Errou na primeira volta, caiu para último e completou em nono.

Para sair de Suzuka com o campeonato, Vettel tem que vencer a corrida e Alonso tem de ser no máximo o nono. Um cenário pouco provável, mas não impossível.

As apostas já começaram. Japão? Eu diria que vai ser na Índia.

O Korea International Circuit

Dois pilotos resumiram bem o que é este GP da Coreia do Sul. “É longe demais de Seul”, disse Romain Grosjean. “Adoro a pista, é muito boa para pilotar, mas precisamos encontrar inspiração nas arquibancadas vazias”, completou Lewis Hamilton.

É justamente isso. Nenhuma outra corrida do calendário demanda um deslocamento tão longo para chegar  à pista.

Acompanhe comigo… depois de desembarcar em Seul é preciso enfrentar uma hora de ônibus para chegar à estação de trem mais próxima. De lá são mais de três horas no KTX, o trem-bala coreano, para percorrer os pouco mais de 400 km que separam a capital coreana de Mokpo, a cidade portuária onde a F-1 fica baseada durante o final de semana.

E ainda tem o táxi até chegar ao motel. Sim, porque aqui todos nós ficamos em motéis e não em hotéis. Na verdade só existem dois hotéis propriamente ditos: um do lado do circuito, em Yeongam, onde ficam os pilotos e alguns dirigentes sortudos, e outro em Mokpo, onde quem toma conta é a FIA e a FOM.

Desde 2010, quando a Coreia estreou no calendário, já ouvi as histórias mais bizarras. Desde a de um membro da Red Bull que teve de voltar ao motel no meio do dia e pegou um casal em seu quarto, às camas redondas e espelhos por todas as partes e máquinas de “acessórios” nos corredores.

Até hoje há quem traga lençóis ou até sacos de dormir de casa. Um exagero. Mas a verdade é que a F-1 é um pouco mimada neste sentido. O que mais incomoda neste GP coreano não é o fato de não haver hotéis para todos e sim o de não vermos público nas arquibancadas.

Segundo os organizadores, em 2012 foram 86.259 torcedores nos três dias de atividades de pista. Para servir de comparação, na estreia do GP dos EUA no calendário, no ano passado, foram 265.000.

Mas não é só. Desde a estreia, a organização só tem perdido dinheiro com a corrida. No ano passado o rombo foi de cerca de R$ 82 milhões. Pouco se comparado com os R$ 153 milhões no primeiro ano.

Muito possivelmente esta será a última vez que a F-1 vem para a Coreia. Não é por acaso que no pré-calendário do ano que vem, a FIA colocou Yeongam como “provisório”.

Uma pena. Além de a Coreia ser um país muito acolhedor e de ter construído um belo circuito _no meio do nada, é verdade_, ainda proporciona uma das raras oportunidades que temos de interagir com as equipes fora do paddock.